Sou gandaresa, digo-o com orgulho e à boca cheia. Nasci e cresci no coração da gândara.
Gândara é, por definição, uma zona de terreno arenoso, improdutivo. A minha gândara era assim, a terra era areia solta, areia que pertenceu ao mar e que os gandareses, antepassados nossos, pessoas de muita coragem, se esforçaram por trabalhar para que produzissem alguma coisa, ainda hoje lutam para que aquele terreno arenoso produza batatas, feijões, couves, alfaces e todo um arraial de coisas.
Um gandarês é um lutador, seja em terra ou no mar, o povo da gândara é rijo, não se deixa ir abaixo perante as contrariedades da vida, somos feitos de uma massa forte. É com a cabeça erguida que aceitamos derrotas e nos propomos aos desafios.
Há mais de 50 anos atrás o meu avô, gandarês de gema, enfrentou um desafio que se transformou numa paixão, enfrentou as ondas violentas do mar da nossa praia num barco a remos para pescar, para dar corpo e voz à Arte Xávega, a pesca de arrasto tão tradicional na nossa costa.
Agora essa Arte toma forma num museu que irá nascer na Praia da Tocha e enche-me de orgulho pensar que as minhas/as nossas raízes estarão expostas para quem as quiser conhecer. Sei que aquele museu terá para sempre um bocadinho da história da minha família na figura do meu avô, um homem rijo, com uns olhos azuis brilhantes como o mar, com a pele queimada de tantas e tantas horas exposto ao sol daquela praia onde cada ruga marcada conta uma história.
Uma palavra: orgulho.
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