terça-feira, 29 de abril de 2014

Aventuras de balcão

O atendimento ao público é uma coisa que nem toda a gente está efectivamente habilitada para fazer. Hoje foi dia de ida à Maternidade ver o estado da situação, a ver se o nascimento estava para perto ou se ainda dava para ir a umas festas de aniversário e uns almoços de família agora no início de Maio.

Chego ao balcão da Urgência (sim, foi lá que fui para ver como param as modas dentro da minha barriga) assim cedo pela fresca, 8h30 da manhã, e ninguém para me atender. Só estava um senhor na sala de espera, provavelmente à espera da sua grávida que estaria a ser atendida lá dentro, e ao balcão não se via vivalma.

Esperei, li os papéis todos que por lá andavam até que chega alguém para me atender. E quem era? Pois, aquela-que-parece-que-todos-lhe-devem-e-ninguém-lhe-paga. Foi neste momento que eu pensei "eu joguei pedra na cruz" (ler com sotaque brasileiro). Desde o último encontro que tive com esta senhora bem que lhe podia ter passado a neura, mas, espantem-se, não passou. Ora pois que a senhora vem lá de dentro para me atender a praguejar entredentes que se tinha acabado não sei o quê, e que tinham de trazer tudo de casa, até canetas tinham de trazer de casa. Agora a sério, eu mereço?

Felizmente só tive de lhe dizer bom dia, dar o livro verde para me registar e virar costas, não tenho paciência para estas almas perdidas.

Já na triagem a enfermeira que me atendeu foi de uma simpatia tal logo àquela hora da manhã que até me deu gosto conversar um bocadinho com ela.

Se me volto a cruzar com aquela mal-dispostinha que parece-que-todos-lhe-devem-e-ninguém-lhe-paga acho que me nasce a miúda com o susto!


segunda-feira, 28 de abril de 2014

Um Amor em Tempos de Guerra, de Júlio Magalhães


A história deste livro leva-nos a um dos mais marcantes episódios da nossa história mais recente: a guerra do Ultramar. António, o protagonista, vive em Santa Comba Dão, é vizinho de António Oliveira Salazar, a ele lhe deve o nome que os pais lhe deram, e tem um amor desde sempre, Amélia, com quem tem planos para casar, ter filhos e ser feliz. Tudo corria bem até ao dia em que é chamado para a tropa e, depois do serviço militar cumprido, é enviado para Angola a bordo do navio Niassa que levou os militares portugueses para combater numa guerra de ninguém. Em Angola valem-lhe os amigos que fez na tropa, os amigos que fez na guerra e as cartas trocadas com Amélia e a mãe para manter a sanidade mental que a guerra rouba, e vale-lhe Dulce, uma preta linda de sangue quente que lhe mostra outro amor diferente do de Amélia. António sabe o que quer e apesar de a sua missão já ultrapassar os dois anos, ele só pensa em regressar à sua terra e casar com Amélia, conforme planeado anos antes, no entanto na última missão é apanhado numa emboscada, feito prisioneiro durante 3 anos e dado como morto pelo exército português. António consegue fugir já depois da Revolução, e acaba por regressar doente, muito fragilizado a nível emocional e sem saber o que o espera na sua terra.

O modo de escrita de Júlio Magalhães reflecte o seu lado jornalista e talvez seja isso que faz com que a leitura deste livro seja tão fluida e galopante.
É um livro que nos toca no lado mais sensível, fazendo o leitor sentir a dor e o desespero dos portugueses, tanto os que partiram para a guerra, como os que cá ficaram amputados dos seus familiares e amigos.

No final, e apesar de todo o contexto histórico em que está envolvida, esta é uma história de um amor superior que pode muito bem ter acontecido nos idos anos 70.
A época interessa-me, tenho muita curiosidade pelos acontecimentos que ocorreram nesta altura e é também a esse facto que atribuo a rapidez com que li o livro.
António nasceu marcado pelo nome. O mesmo que o vizinho da rua das traseiras, o homem que se fez doutor em Coimbra e que ia à terra sempre que podia, o tal que governava o país com pulso de ferro. Mas de pouco ou nada lhe valeu tão grande nome quando o destino o enviou para Angola, para defender a pátria em nome de uma guerra distante que não era a sua. Deixou para trás a sua terra, a mãe inconsolável e Amélia, a mulher a quem pedira em casamento, num banco de pedra, junto à igreja e que prometera fazer dele o homem mais feliz de Vimieiro. Promessa gravada num enxoval imaculado que ficou guardado no armário, à espera do fim daquela maldita guerra. Quando António regressou de Angola, era um homem diferente. Marcado no corpo por anos de guerra e de cativeiro e no coração por um amor impossível que deixara em pleno mato angolano. Regressava para cumprir a promessa que fizera anos antes à sua noiva Amélia, que o julgara morto, e que, em sua memória, tinha enterrado um caixão sem corpo.
Fonte: fnac.pt

Nascido e Criado na Margem Sul, de Rui Unas


Este livro encaixa-se mais no estilo de comédia do que propriamente biografia porque duvido que grande parte do que Unas nos escreve tenha realmente acontecido, ou pelo menos acontecido tudo com ele.
Num estilo de escrita corrido e muito simples, Rui Unas conta-nos passagens de uma vida passada na Margem Sul, com gangues, jogos de bola na praceta, e todo um conjunto de episódios que dariam um livro bibliográfico se tivessem todos realmente acontecido, assim deram um livro misto de ficção e realidade com piada que se lê "enquanto o Diabo esfrega um olho".
Rui Unas vive na Margem Sul há quarenta anos anos e correm rumores de que nunca foi sequer a Lisboa. (Diz-se que sente vertigens ao aproximar-se da ponte e que só de charola aceita pôr os pés num cacilheiro.) Em certas noites de nevoeiro há relatos de avistamentos do nosso herói no braço esquerdo do Cristo Rei – de costas para Lisboa. Pela Margem Sul cresceu, levando uma vida pautada pelo vício e pela transgressão gratuita, tendo conquistado o pleno domínio da sua praceta enquanto criança. É dali que ainda hoje controla o tráfico de ursinhos de goma em toda a Margem Sul e comanda o movimento independentista sectário autodenominado «A Margem Sul é até Cabo Verde». Há cerca de vinte anos, conquistou o mundo aos microfones da Rádio Seixal, travestindo-se desde então de radialista, apresentador de televisão, fake MC, autor de autobiografias imaginárias, actor e profissionalíssimo professor de kizomba. Don Juan nas horas vagas (e nas outras horas todas), são épicas as histórias das suas conquistas, de Alcochete à Caparica, tendo as suas bravatas inspirado argumentos cinematográficos de uma produtora de renome, sediada numa cave do Barreiro. Marcou gerações, sobretudo a que o viu de maillot de luta greco-romana, e nem com uma vida inteira de psicoterapia conseguirão os margem-sulenses esquecer a primeira vez que dançou o malhão africano em público. Esta é a sua história.
Fonte: fnac.pt

O Homem Que Sonhava Ser Hitler, de Tiago Rebelo


Este livro conta a história de um inspector da polícia judiciária e do seu parceiro que tentam deslindar uma conspiração política da extrema-direita que tem como objectivo destruir a democracia em Portugal. A história parte de uma agressão de um grupo de cabeças-rapadas a uma criança que fica em coma, e é a partir daqui que a judiciária começa a desenrolar o novelo sem fim que envolve gente influente e conhecida do meio político.

Com uma escrita simples, fácil e fluida a que Tiago Rebelo já habituou os seus leitores noutros livros, é um romance meio policial com muito suspense que prende à medida que se avança na leitura, com um final mais ou menos surpreendente.
Neste surpreendente romance, Tiago Rebelo abre-nos a porta dos fundos do lado mais obscuro da política nacional dos nossos dias, onde nada é o que parece ser e onde se desenrolam acontecimentos extraordinários que colocam em perigo a sociedade, sem que esta se aperceba do que está realmente a acontecer. Negócios duvidosos, violência extrema, espionagem, tudo vale numa guerra secreta entre um implacável exército da extrema-direita e grupos de agitadores anarquistas da esquerda mais radical. Os dois lados tecem as suas teias globais, que se confrontam, desde as revoltas nas ruas da Grécia aos bairros problemáticos dos arredores de Lisboa. Numa narrativa vertiginosa que, a cada página, é uma bola de neve de acontecimentos cada vez mais inesperados, o autor apresenta-nos personagens inesquecíveis, como o Caveira, um sinistro gigante que chefia as tropas de choque de um partido neonazi liderado pelo seu irmão, um homem sem escrúpulos e de invulgar inteligência, que tem o sonho de repetir em Portugal o projecto de Hitler.Contra estes impiedosos irmãos, o inspector-chefe, António Gaspar, da PJ, leva a cabo uma investigação que ameaça a sua vida e a da mulher que ama, a ex-namorada que procura recuperar no desvario dos dias perigosos que põem em risco a nação.
Fonte: fnac.pt

quinta-feira, 10 de abril de 2014

L que não é de Leonor

Diz-se por aí que na primeira gravidez as futuras mães têm a tendência de ir comprar roupa de grávida mal a barriga começa a crescer. Ora acho que nem nesta parte fui normal, só fui comprar duas camisolas de grávida porque a minha mãe quase me obrigou. Se as calças de grávida me dão efectivamente muito jeito (todas as outras deixaram mesmo de servir), relativamente às camisolas consegui desenrascar-me com o que tinha no armário, até ao dia em que a minha mãe me disse "vamos comprar roupa que eu quero que sejas uma grávida bonita", que é tudo o que uma pessoa quer ouvir da própria mãe! Sabem aquela coisa das mães acharem que somos os mais bonitos do mundo, independentemente das calças rotas, as sapatilhas gastas ou as camisolas com borbotos? Deixem lá isso, é tudo mentira.
Pois que lá fizemos uma incursão ao shopping mais próximo para adquirir uns modelitos da moda para a minha barriga que teimava em crescer um bocadinho a cada dia que passava. Claro que não fui a lojas de grávida, fui às lojas de sempre, mas como a barriga já há muito que deixou de ser lisa, vi-me obrigada a ir subindo os tamanhos à medida que experimentava roupa, porque se a barriga estava grande, ia acabar por crescer mais e quando viesse o calor primaveril já nada daquilo me ia servir e iria precisar de roupa novamente, e foi assim que eu, menina de S na roupa, acabei a comprar camisolas e tshirts de tamanho L. Quem disse que ir às compras era relaxante? 


Esta foi uma das aquisições que, coincidentemente, tenho hoje vestida e me está a fazer assar com o abafo que aqui está.

É todo um mundo novo

Felizmente nunca fui pessoa de grandes doenças ou paranóias com as mesmas, pelo que as minhas idas ao médico sempre passaram pelo estritamente necessário, ou seja, quando era obrigada pela minha mãe ou quando o caso era realmente grave. Assim sendo, todas estas andanças de consultas, análises e afins são uma nova descoberta associadas à gravidez.
Mais uma achega para a minha dissertação: causa-me dores de fígado pessoas que estão no atendimento ao público e logo pela manhã têm aquela cara de que toda a gente lhes deve e ninguém lhes paga, tratando os utentes de tal forma que uma pessoa até se sente culpada de cá ter vindo.
Pois bem, posto isto, vamos ao que interessa. Doutora manda vir à maternidade para me fazer uma análise que o médico de família se esqueceu de passar (antes que perguntem, sim, eu sou como o da canção, vou a todas, médica particular, maternidade e médico de família). 
Assim que cheguei, fui falar com a médica e ela passou-me um papelinho com aquela letra ilegível tão própria dos médicos para eu ir à recepção inscrever-me. Ora é aqui que a história começa. 
A senhora simpática da recepção, depois de ouvir o que eu queria, passa-me para a fila do lado, para ser atendida por aquela-que-parece-que-todos-lhe-devem-e-ninguém-lhe-paga. Ela ouviu o que pretendia e começou o fandango. Entredentes começou a barafustar que devia era estar no gabinete dela (deve ser daquelas que são boas é a trabalhar isoladas da população), que a médica não estava boa, que ia agora abrir um processo por causa de uma análise, nisto eu interrompo delicadamente e num esforço de simpatia que já não me estava a ser natural digo que a médica está no gabinete 1 se desejar falar com ela, ao que ouço "vou agora falar com a médica" - em jeito de desdém - "se ela diz que é para inscrever, é para inscrever" mas sempre com maus modos!
Perante a má disposição da senhora, só me saiu um seco "obrigada e bom dia", virei costas e lá fui esperar pela minha vez na consulta com a médica.
Cara senhora da recepção aquela-que-parece-que-todos-lhe-devem-e-ninguém-lhe-paga, a senhora trabalha numa maternidade, sabe, portanto, que as grávidas em particular são seres com mudanças de humor repentinas e a qualquer momento pode-lhe ser direccionada uma resposta torta ou até um insulto, por isso se eu fosse a senhora metia a minha melhor cara para vir trabalhar, mas se não estiver para isso, não se incomode que eu conheço pelo menos meia dúzia de pessoas que fariam o seu trabalho com um sorriso na cara e boa disposição e a senhora poderia ficar em casa a contar para a estatística do desemprego.
Passe bem.
(Foto tirada na sala de espera deste espaço de saúde onde está um abafo que quase me coze a miúda)

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Leonor


Às 34 semanas semanas e 1 dia a nossa pequena Leonor diz olá ao mundo blogosférico ainda dentro da barriga da mãe, tendo como cenário o quarto mais lindo das redondezas.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Sangue do Meu Sangue



Sangue do Meu Sangue conta a história de uma família num bairro degradado de Lisboa, Márcia (Rita Blanco) é mãe solteira de dois filhos, Cláudia (Cleia Almeida) que estuda enfermagem e trabalha num supermercado e João Carlos (Rafael Morais), um jovem delinquente que faz o maior erro da vida dele ao tentar enganar o dealer. Na mesma casa vive Ivete (Anabela Moreira), irmã de Márcia que ajudou a criar os dois.
Perante as encruzilhadas em que os filhos se metem, a mãe tem coragem, determinação e energia suficiente para resolver os problemas dos filhos da maneira que acha que os protege mais. É, mais que tudo, uma história de sobrevivência e amor incondicional, com grande teor de violência e actualidade. Ainda assim, tanta referência à "portugalidade" é capaz de ser demais: o relato de futebol sempre presente, a música de Tony Carreira sempre no fundo e as t-shirts da Selecção caem na banalidade do estereótipo português.
Márcia mora com a irmã, Ivete, num bairro camarário dos arredores de Lisboa. Juntas, criaram os filhos de Márcia: Cláudia, que estuda enfermagem e é caixa num supermercado, e Joca, que se tornou num pequeno delinquente. Um dia, a vida da família é abalada para sempre: Joca tentou enganar o dealer para quem traficava e é apanhado; e Cláudia apresenta à mãe o seu novo namorado, seu professor e muito mais velho. E quando esta o conhece, percebe que tem de fazer tudo para acabar com a relação, assombrada por uma tragédia sem nome. Esta é uma história de amor incondicional, de sacrifício e de redenção.
Fonte: cinema.sapo.pt
Sangue do Meu Sangue no IMDB.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Camarate - A Verdade Não Perscreve, de Inês Serra Lopes



Inês Serra Lopes levou a cabo uma longa investigação sobre o caso Camarate durante o tempo em que esteve na TVI. Este livro, lançado em 1996, compila um conjunto de informações que a jornalista conseguiu apurar desta investigação intensiva sobre o caso Camarate. No dia 4 de Dezembro de 1980, durante a campanha de Soares Carneiro, o Cessna onde viajavam o Primeiro-Ministro Francisco Sá Carneiro, o Ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa, suas esposas, os pilotos e ainda o chefe de gabinete do Primeiro-Ministro, António Patrício Gouveia, despenhou-se alguns segundos depois de levantar voo do Aeroporto da Portela. Ninguém sobreviveu.

Ainda hoje a dúvida persiste, nada foi provado, acidente ou atentado? Perante as ilacções de Inês Serra Lopes publicadas neste livro, cada um poderá tirar as suas conclusões. Muitos foram silenciados, muitos factos encobertos, encontraram-se factos contraditórios, muitos nomes que actualmente estão na política foram surgindo no curso da investigação e o mistério persiste até aos dias de hoje. Passaram já 33 anos, o caso prescreveu, mas a verdade, essa, permanece por apurar.

"Aliás, não tenho pressa: o procedimento criminal prescreveu. A verdade, não."