segunda-feira, 28 de abril de 2014

Um Amor em Tempos de Guerra, de Júlio Magalhães


A história deste livro leva-nos a um dos mais marcantes episódios da nossa história mais recente: a guerra do Ultramar. António, o protagonista, vive em Santa Comba Dão, é vizinho de António Oliveira Salazar, a ele lhe deve o nome que os pais lhe deram, e tem um amor desde sempre, Amélia, com quem tem planos para casar, ter filhos e ser feliz. Tudo corria bem até ao dia em que é chamado para a tropa e, depois do serviço militar cumprido, é enviado para Angola a bordo do navio Niassa que levou os militares portugueses para combater numa guerra de ninguém. Em Angola valem-lhe os amigos que fez na tropa, os amigos que fez na guerra e as cartas trocadas com Amélia e a mãe para manter a sanidade mental que a guerra rouba, e vale-lhe Dulce, uma preta linda de sangue quente que lhe mostra outro amor diferente do de Amélia. António sabe o que quer e apesar de a sua missão já ultrapassar os dois anos, ele só pensa em regressar à sua terra e casar com Amélia, conforme planeado anos antes, no entanto na última missão é apanhado numa emboscada, feito prisioneiro durante 3 anos e dado como morto pelo exército português. António consegue fugir já depois da Revolução, e acaba por regressar doente, muito fragilizado a nível emocional e sem saber o que o espera na sua terra.

O modo de escrita de Júlio Magalhães reflecte o seu lado jornalista e talvez seja isso que faz com que a leitura deste livro seja tão fluida e galopante.
É um livro que nos toca no lado mais sensível, fazendo o leitor sentir a dor e o desespero dos portugueses, tanto os que partiram para a guerra, como os que cá ficaram amputados dos seus familiares e amigos.

No final, e apesar de todo o contexto histórico em que está envolvida, esta é uma história de um amor superior que pode muito bem ter acontecido nos idos anos 70.
A época interessa-me, tenho muita curiosidade pelos acontecimentos que ocorreram nesta altura e é também a esse facto que atribuo a rapidez com que li o livro.
António nasceu marcado pelo nome. O mesmo que o vizinho da rua das traseiras, o homem que se fez doutor em Coimbra e que ia à terra sempre que podia, o tal que governava o país com pulso de ferro. Mas de pouco ou nada lhe valeu tão grande nome quando o destino o enviou para Angola, para defender a pátria em nome de uma guerra distante que não era a sua. Deixou para trás a sua terra, a mãe inconsolável e Amélia, a mulher a quem pedira em casamento, num banco de pedra, junto à igreja e que prometera fazer dele o homem mais feliz de Vimieiro. Promessa gravada num enxoval imaculado que ficou guardado no armário, à espera do fim daquela maldita guerra. Quando António regressou de Angola, era um homem diferente. Marcado no corpo por anos de guerra e de cativeiro e no coração por um amor impossível que deixara em pleno mato angolano. Regressava para cumprir a promessa que fizera anos antes à sua noiva Amélia, que o julgara morto, e que, em sua memória, tinha enterrado um caixão sem corpo.
Fonte: fnac.pt

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