quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Modas

Eu cresci numa aldeia onde havia vacas, pessoas que iam com as vacas à ordenha todos os fins de tarde. Passavam em frente à casa da minha avó, onde eu passava as tardes, a caminho da ordenha no seu ritual diário.
Quando eu nasci e a minha avó teve de tomar conta de mim, deixou de ter vacas para ter mais disponibilidade, e dedicou-se unicamente ao cultivo das alfaces, dos feijões, etc e à criação de galinhas e de um porco.
Havia dias que a minha avó me levava à ordenha para eu ver como era o processo do leite. Eu não cresci a achar que o leite vinha do pacote, eu vi desde cedo de onde vinha o leite, conheci de perto a fábrica que mandava buscar aquele leite e o metia dentro dos pacotes. Cresci a conhecer os códigos dos pacotes de leite, onde ele se fazia, que o leite que estava dentro deste pacote era igualzinho ao que estava naquele pacote, só mudava o rolo de cartão.
As vizinhas da minha avó tinham várias vacas e de vez em quando via chegar o inseminador, botas de borracha brancas, bata de plástico, luvas até aos ombros, enfim, toda uma indumentária própria para o propósito que ali o levava.

Ora toda esta conversa para chegar onde?
Ontem, no trajecto trabalho-casa, sendo que o trabalho fica perto da zona universitária, vi passar uma jovem que trazia calçado nada mais nada menos que umas botas de borracha brancas. O que me veio imediatamente à cabeça? "Botas de borracha brancas? Aquela deve ir inseminar vacas..."
A infância no campo tolda a mente a uma pessoa.

Foto: algures da internet

2 comentários:

Cat disse...

Muito bom!
Gosto das que são pretas, são mais discretas :-)

Kelle disse...

Cat, ainda a moda das botas de borracha vinha muito longe já eu usava umas azuis (herdadas do meu irmão, claro) para ir para o quintal com a minha avó, andava com elas a regar o quintal, a plantar batatas e a fazer tudo quanto era trabalho de campo. A minha avó tinha umas pretas, como toda a gente adulta na aldeia e, hoje em dia, quando vejo malta com as botas de borracha da moda só me lembro desses tempos em que cavava a terra e regava as hortícolas!