Começou em Novembro de 2009, na Rádio Comercial, com o Nuno Markl a rubrica "Caderneta de Cromos", um registo de memórias dos anos 80 que tomou tais proporções que Nuno Markl, juntamente com Patrícia Furtado e a editora Objectiva lançaram um livro com 100 cromos dessa caderneta radiofónica.
Ouvia, e ainda ouço, religiosamente esta rubrica todas as manhãs porque muitas daquelas memórias fazem parte da minha infância apesar de eu já ter nascido a meio dos anos 80, é que as inovações demoravam a chegar à aldeia e muitas das coisas que Nuno Markl conta do início dos anos 80, aconteciam na minha aldeia no final dessa década. Além disso eu tenho um irmão 8 anos mais velho e muitas das coisas que eu não me lembro, lembra-se ele.
Foi lançada uma pré-venda na FNAC e nessa altura encomendei o livro, tendo os cromos coloridos como oferta e um tubo de cola cisne. No meu tempo os cromos já eram auto-colantes e por isso esta história de ter de colar os cromos com cola é toda uma novidade para mim.
Comecei a colá-los e a ler cada cromo, por assim dizer, uma vez mais pois ouvi-os todos desde o início. Não colo mais do que aqueles que leio e talvez por isso ainda só tenha colado/lido 1/3 do livro, é a minha obra inacabada. Vou ter cromos para colar até ao Natal.
Este livro é uma espécie de um legado que se deixa aos filhos, para eles saberem como foi a infância dos pais e dos tios.
Que dirão eles quando um dia lhes contar metade das porcarias que comíamos, ou as brincadeiras que tínhamos que frequentemente metiam pedras, paus, árvores, sangue nos joelhos e às vezes cabeças abertas. A julgar pelos padrões de hoje, a nossa infância lá na aldeia foi todo um atentado à saúde infantil! Naquela altura nem havia telemóveis, vejam lá, e os nossos pais deixavam-nos sair de casa ao sábado depois de almoço e aparecer em casa já lusco-fusco depois de muitas brincadeiras, arranhões, quilómetros a andar de bicicleta, muitas árvores trepadas, fruta roubada, muitos campos de milho estragados que serviam de cenário ao jogo das escondidas e espalhos no ribeiro que passava por lá. Cada sábado era uma aventura sem planos, fazíamos o que nos dava na rela gana. Como sobrevivemos? Houve cabeças abertas, braços partidos, cicatrizes a dar com pau e muitas outras dores. Criámo-nos, é o que é!
A única coisa de que tenho pena é de as crianças dos dias de hoje já não terem a liberdade e a alegria que tínhamos enquanto jogávamos às escondidas de bicicleta pela aldeia, nos escondíamos nas valas de água, escorregáva-mos nos montes de areia branca no pinhal e apanhávamos "tojeiros" pelo caminho, apanhávamos bichos na lagoa e tantas outras actividades que tinham tanto de divertido como perigoso.
2 comentários:
olá, é com a mesma nostalogia que compartilho lembranças da minha infancia em tudo semelhantes às suas e também é uma pena constatar que já nada é o que era e que os nossos filhos não possam crescer assim dessa forma " sadiamente perigosa e livre". Boas brincadeiras na rua, todo o dia ao fim-de-semana, bons jogos, grandes amigos. A caderneta do Nuno é um reviver de tudo isso. Cumprimentos e bem haja.
Obrigada pelo comentário :) É bom ver o quanto em comum temos com quem nos lê :)
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