Ouvi no outro dia que era dia dos avós. Nao é um dia ainda muito comemorado, vão ser preciso ainda uns anos para fixar o dia, tal como o dia da mãe ou do pai. Tive a sorte de os poder conhecer aos quatro e ainda tive o bónus de conhecer a minha bisavó Albina, uma das melhores pessoas que conheci até hoje.
Hoje em dia ainda me restam uma avó e dois avôs.
Sempre conheci a avó materna assim, com aquele semblante pesado, magra e cheia de pressa para tudo. Parece que carrega o mundo às costas e talvez por isso já caminhe curvada. Mulher do campo, lenço na cabeça, de enxada na mão, gandaresa à moda antiga, com um pulso firme a gerir o pouco dinheiro que entrava em casa e a aplicá-lo onde ele era realmente preciso. No fundo tem bom coração, gosta de nos ajudar no que pode. Não há alfaces que saibam tão bem como aquelas que ela planta, os morangos sabem mesmo a morango, as cenouras são inconfundíveis e os ovos são sempre frescos. Não é pessoa de palavras doces e carinhos, é fria, como a vida foi com ela, ainda assim gosta mais de nós do que tudo na vida, só não o diz, mas sabemos que o sente.
Já o meu avô materno conheci-o sempre assim com um sorriso no rosto, mesmo quando a doença lhe começou a levar o cabelo e a fazê-lo emagrecer a olhos vistos nunca deixou de exibir o sorriso naquele rosto queimado pelo sol da nossa praia. Foi carteiro numa época em que o correio se distribuia a pé, mas fazia a volta de bicicleta, numa bicicleta comprada em segunda mão há mais de cinquenta anos, para poder distribuir as cartas mais depressa e ir para a pesca de tarde. Pescador de arte xávega desde que se reformou do correio é ainda hoje a alma daquela arte na minha praia.
Os 89 anos do meu avô paterno permitem-lhe dizer tudo o que lhe apetece. Dono de uma vivacidade incrível, gosta de ler até de madrugada, está sempre informado sobre benefícios e malefícios de todos os alimentos e faz questão de partilhar connosco essa informação. Viu crescer 3 filhos, 5 netos e já conta com 6 bisnetos. A vida levou-lhe a minha avó demasiado cedo. Teimoso como só ele consegue ser, ocupa o tempo no quintal e a inventar ferramentas para o ajudar no cultivo das cebolas, alhos, couves e por aí fora.
Seria muito bom se me permitissem tê-los por perto mais uns anos para a Leonor poder um dia ter boas recordações dos bisavós.
3 comentários:
tão lindo o teu texto. Cheio de vida.
Eu, infelizmente, já não tenho avós. Se os tivesse seriam páginas do Guiness, de tão velhinhos. Nunca conheci o meu avô materno, mas os outros recordo-os a todos, cada um com a sua particularidade. Os meus avós paternos, foram os que me ensinaram a jogar às cartas, naqueles banquinhos de madeira que se colocavam na eira. :)
Que giro! Adoro ouvir falar de avós! Não conheci os meus... No entanto fui 'adoptada' como neta pela avó do meu marido, já não é mau! :)
Lindo! Os nossos avós são afinal de contas uma espécie de início da nossa existência, da nossa história. E a pimpolha terá a sorte de estar com eles muitos e lindos anos
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