sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Uma forma simples de transpirar

Cenário: ir ao Continente comprar cerca de 7 artigos e levar a Leonor.

A festa começou logo no carro. A miúda tinha as calças sujas, não ia levá-la ao supermercado naquele cenário de quem andou a fazer batalha naval de comida. Peguei na roupa suplente que leva todos os dias para a escola, tirei-lhe as calças e meti-lhe umas leggings (que por acaso até ficavam bem com a camisola que trazia, se não ficasse bem, azar, também não lha ia trocar) ali mesmo no parque de estacionamento. Olho bem para a cara da miúda e toda ela é uma mistura de ranho, baba e outras coisas que não consigo nem quero identificar, saco de um toalhete da minha carteira (lá calhou ter um mini pacote de toalhetes húmidos daqueles para limpar as mãos), esfrego-lhe a cara com aquilo, aproveito e limpo-lhe também as mãos, negras, parecia que tinha andado a plantar alfaces com a bisa. Com um ar minimamente asseado lá vamos nós parque de estacionamento fora. Entro no espaço do centro comercial e meto-a no chão, as minhas costas um dia dão o berro, ou o peido mestre tanto faz. Ela leva a Ovelha Choné de braçado. Insiste em não me dar a mão e foge, naquele jeito dela de "anda, corre atrás de mim que isto aqui é ainda mais giro". Depois de alguma insistência ela dá-me a mão e consigo que vá direitinha até à entrada do supermercado. Claro que a Ovelha Choné fica pelo caminho pelo menos duas vezes e obrigo-a a apanhá-la do chão. Se lha tiro e a meto na carteira ela grita que quer a Ovelha, se lha dou acaba por a mandar para o chão novamente, e assim seguimos.
Uns quinze minutos depois entramos finalmente no supermercado propriamente dito, não há cestos. Ela continua no chão, de mão dada comigo e com a Ovelha na outra mão, corremos as caixas todas à procura de um cesto em passo de caracol que ela gosta de andar e observar tudo à volta. Quase no fim da fila de caixas lá encontramos o raio de um cesto, ainda por cima meio empenado. Não quero saber, levamos aquele na mesma. Damos finalmente início às compras dos 7 artigos que ali nos levaram. Ela quer fugir-me da mão, o Continente está cheio de gente, não vou correr o risco de me fugir, acabo por a pegar ao colo no braço esquerdo e com a mão direita puxo o cesto ainda vazio. Não perco tempo a escolher coisas, já sei o que quero, vou directamente às prateleiras e é só meter para o cesto, o problema é que o que quero fica em sítios opostos do supermercado e o raio daquela superfície comercial não é propriamente pequena. Sinto-me a fazer a meia maratona com a miúda ao colo (só num braço, que o outro tem um cesto agarrado). Como raio é suposto meter a fruta dentro dos sacos?  (já nem a escolho, se estiver ligeiramente tocada ou podre, paciência, não quero saber). Meto-a no chão um minuto só para meter quatro maçãs verdes dentro do saco de plástico de qualidade duvidosa e nisto já a miúda deu a volta à banca dos frutos secos e já está a caminho das arcas da carne. Largo o cesto, o saco das maçãs e lá vou eu a correr atrás dela. Ela ri-se, acha que isto é um jogo e eu já transpiro. Pego-a novamente ao colo e meto três pêras e uma papaia em sacos diferentes. Com ela ao colo até consigo fechar o saco, não sem antes deixar cair o saco das pêras. Vou pesar a fruta, o senhor que lá está olha para mim com um ar misericordioso, não sei bem porquê, nesta altura ainda só transpirava um bocadinho. Nisto a Ovelha Choné volta a ir parar ao chão, de forma deliberada, meto-a no chão e obrigo-a a apanhar a Ovelha. Depois de alguma insistência ela lá apanha o raio da Ovelha e volto a pegá-la ao colo. Sigo para o corredor dos iogurtes e mal ela vê os iogurtes quer-se lançar a eles. O corredor dos iogurtes estava pouco frequentado, lá consigo metê-la novamente no chão, claro que ela foge com a Ovelha e vai metê-la entre o expositor dos iogurtes e uma espécie de barra de ferro que lá está no chão não sei bem com que propósito. Pego-a novamente ao colo, sempre com o cesto atracado a mim e sigo para os congelados. Nisto, tenho tudo no cesto, tenho a Leonor ao colo e aguardo na fila da caixa prioritária que de prioritária tem apenas o nome, é que toda a gente se mete no raio daquela fila. Eu tenho uma criança com mais de 10kg ao colo, irrequieta, tagarela e um cesto com 7 artigos. Alguém se dá ao trabalho de ver que eu estou ali e me manda passar à frente? Não. Ali aguardo a minha vez, com a Ovelha a ir parar ao chão vezes sem conta, e eu a obrigá-la a apanhar o raio do bicho que já está mais nojento que o chão de uma discoteca às 7 da manhã. Meter os artigos no tapete é uma aventura, com uma mão seguro a miúda que está no chão e que começa a achar graça às cores vivas dos pacotes de pastilhas que estão ali mesmo ao nível dos olhos dela, e com a outra mão meto os artigos no tapete. Tiro o saco de plástico da mala, o cartão para pagar e um talão de desconto, tudo com ela ao colo e a rabear. A senhora da caixa mete-se com a miúda por causa da Ovelha e dá-me uma ajuda a ensacar tudo. Sento a Leonor em cima da caixa, já do lado dos artigos pagos mas ela não quer ficar sentada, põe-se de pé e acha tudo hilariante. Raio da miúda, levo-a às compras todas as semanas e parece que é sempre a primeira vez. Consigo safar-me desta, pego-a ao colo para me ir embora e com a outra mão seguro o saco das compras. Eu disse 7 artigos? Aquela porcaria pesava mais que a Leonor em dias que come que nem um alarve. Sigo a minha viagem entre a caixa e o carro com a Leonor ao colo e o saco das compras na outra mão. Transpiro. O meu cabelo até já pinga. O carro está no estacionamento mais perto da entrada do supermercado, ainda assim tenho de fazer paragens técnicas que o peso das compras está-me a matar um braço e a Leonor mata-me o outro. Troco a Leonor e o sacos das compras e aguento mais 10 metros. Vou assim neste sistema de trocas até ao carro, altura em que pouso tudo no chão, o saco e a Leonor. Nisto, enquanto estico ligeiramente as costas e abro o carro, a miúda foge-me no parque de estacionamento para a frente do carro, esconde-se entre a parede e o outro carro ao lado. Apanho ali uma camada de nervos e ralho-lhe, não pode fugir-me num parque de estacionamento. Pego-a novamente ao colo, abro o carro e meto-a na cadeira, mesmo com ela a resmungar. Fecho a porta e respiro fundo. As compras, esquecidas no chão, tomam o seu lugar na mala do carro e eu sento-me ao volante ainda a transpirar. Música alta e seguimos numa viagem calma e tranquila para casa. Ginásio? Vão vocês que eu vou ao supermercado que vale o mesmo.

3 comentários:

Nelinha disse...

Oh pá! O que eu me ri a ler isto! :)
Revejo-me em quase tudo... e a minha pequena até é leve! :S

Kelle disse...

Nelinha, e a tua ainda não anda, espera só até ela andar...Transpirei mais que em muitas idas ao ginásio!! :D

Ângela disse...

Oh que aventura! Parece que estou a ver a Leonor a exibir a sua bela dentuça nas várias vezes em que te percebia irritada!
Realmente esquece ginásios e afins!Já me ri imenso com tamanha trabalheira:)