"Longe do meu Coração", de Júlio Magalhães, traça-nos o retrato da emigração dos portugueses para França na década de 50 e 60, antes da Revolução. Naquela época foram milhaes os portugueses que deram o "salto" para fugir a uma vida de pobreza, a uma falta de oportunidades na ditadura Salazarista, para fugir à obrigatoriedade de ir para a Guerra Colonial.
Joaquim, a personagem principal, e o seu grande amigo Albano, ambos oriundos de Memória, uma pequena aldeia perto de Leiria, decidiram arriscar a vida numa viagem complexa e clandestina, desde Portugal até França, tentando não serem capturados nas malhas da PIDE, uma viagem que se revelou cheia de peripécias e muito sofrimento, que teve dois momentos marcantes: a passagem da fronteira de Vilar Formoso e a travessia dos Pirinéus. Conseguem chegar a França e são acolhidos pelo tio de Joaquim que estava em França já há alguns anos e que lhe contava maravilhas daquele país que oferecia trabalho com fartura aos portugueses com pouca formação. No entanto, a realidade que encontram não era bem aquela que esperavam e a chegada a França é marcada pela desilusão.
É uma história real, marcante com muita emoção que nos mostra que os tempos idos dos anos 60 eram realmente difíceis, não só pelo preconceito com que os portugueses eram vistos lá fora mas pela falta de condições de sobrevivência e falta de direitos destes emigrantes vistos, afinal, como bons trabalhadores.
É impossível ficar indiferente a esta história simples sobre gente simples, sobre portugueses que se fizeram à vida e deixaram o país onde nasceram para vingarem lá fora. A história não é sobre Joaquim, é sobre milhares de portugueses, milhares de pessoas anónimas que sairam para vencer num país que as olhava de lado.
Joaquim não queria acreditar no que os seus olhos viam. Tinha saído a salto de Portugal, viajado apertado em camionetas de gado, andado quilómetros e quilómetros a pé, à chuva e à neve, quase tinha perdido a vida nos Pirenéus e agora estava ali. Na capital portuguesa em França. O sítio onde, todos lhe garantiam, podia enriquecer e concretizar os seus sonhos. Mas o que via era um bairro de lata. Sentia os pés enterrarem-se na lama. Olhava para as barracas miseráveis e para os fardos de palha que faziam as vezes de uma cama. Mas, Joaquim não estava disposto a baixar os braços. "Longe do meu Coração" retrata com mestria e realismo o quotidiano dos portugueses que partiram em busca de uma vida melhor, sonhando um dia regressar ricos à terra que os viu partir pobres. Para Joaquim, Portugal estava longe. Era ali, em França, na terra que lhe dava de comer, que queria vingar, que prometia, à força do seu trabalho, derrubar fronteiras e preconceitos. O plano estava traçado. Iria abrir uma empresa de construção, com o seu amigo Albano, enriquecer e, depois de ter casa montada com carro com emblema no capô, estacionado à porta, iria pedir a mão da sua Françoise, a professora de Francês que lhe abriu o mundo das letras e do amor. Mas, cedo Joaquim vai descobrir que há barreiras difíceis de ultrapassar.Fonte: fnac.pt