terça-feira, 23 de abril de 2013

Lágrima de preta


Um poema bonito que encontrei por acaso, de António Gedeão.

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

(António Gedeão)

1 comentário:

Cristinix disse...

Gosto muito de António Gedeão e gosto bastante desta Lágrima de Preta.
Uma ótima semana.